O Tesouro
inspirado no conto homónimo de Manuel António Pina
Sinopse
Há muito tempo atrás existia um país, muito parecido com o nosso, mas sempre que alguém vinha de fora, reparava que as pessoas não eram felizes. Diz-se que houve lá um tesouro que, ao ser roubado, contaminou todas as pessoas com uma tristeza misteriosa. Por isso, esse país era chamado de País das Pessoas Tristes. Ao descobrir esta história, Artur, uma criança bastante curiosa, decide partir em busca desse tesouro tão secreto. Entre trava-línguas, cravos vermelhos e um monstro que devora palavras, Artur tenta decifrar este mistério, na esperança de devolver a felicidade a todos os habitantes.
Um proposta de espectáculo pensada para os públicos mais jovens mas que, certamente, cativará e enternecerá também os mais crescidos.
Ficha Artística e Técnica
Adaptação livre a partir do conto homónimo de MANUEL ANTÓNIO PINA
Criação, Dramaturgia e Interpretação APOLLO NEIVA E DUARTE BANZA
Música Original ET TOI MICHEL
Operação de Luz e Som ELSA PINHO
Imagem original do espectáculo LEONOR ALMEIDA
Fotografia LUÍS CUTILEIRO
Registo e edição de vídeo PAULO SANTOS E GUILHERME ANAHORY
Design de comunicação INÊS PALMA
Secretariado e produção VANDA RUFO
Classificação: M/06
Duração: 45'
Somos filhos da democracia e da liberdade, pelo que se torna difícil conceptualizar um mundo onde estes dois conceitos inerentes não existam. Mundo esse, onde cresceram os nossos avós, do qual apenas resta a vontade de não regressar. Actualmente, a democracia e a liberdade têm-se tornado cada vez mais frágeis, sendo que o cravo que libertou este país da maior ditadura do século XX tem começado, a pouco e pouco, a perder as suas pétalas e a gritar por cuidado, na tentativa de impedir que lhe cortem o caule sem que ninguém dê por isso. Se para nós, nos é complexo perspectivar Portugal nessas condições, como poderíamos explicar às crianças o que foi o 25 de Abril? Foi neste momento que encontrámos a obra O Tesouro de Manuel António Pina, onde o autor descreve o que foi Portugal antes da Revolução, e que nos inspirou em termos da linguagem e da forma. Porém, a nosso ver, este conto não seria suficiente para aquilo a que nos propúnhamos, mas sim um bom ponto de partida, para aquilo que é o nosso Tesouro que hoje vos apresentamos.
Criámos personagens, situações, perspectivas, opiniões… Algumas puramente fictícias e outras inspiradas em entrevistas realizadas àqueles que cresceram e viveram no País onde a trama decorre. Todos os entrevistados nos disseram que a palavra liberdade não existia antes de 1974, que não se conhecia, que não possuía qualquer tipo de significado, sendo uma palavra vazia de sentido e, de imediato, concordámos que isso seria um óptimo mote para a construção deste espectáculo. Muitos deles contaram-nos também que o dia 25 de Abril foi o dia mais feliz das suas vidas, fazendo-nos perceber ainda mais o valor e a importância da liberdade.
Após muitas dúvidas, pesquisa, ideias e objectivos optámos por introduzir marionetas de diferentes tipos para corporalizar as personagens que compõem este mundo, contrastando claramente com o semblante de Artur. Este processo de conceptualização e estruturação de diferentes marionetas foi sem dúvida um dos maiores desafios formais do espectáculo. Nunca tínhamos construído nenhuma, e fomos compreendendo as suas complexidades a par e passo com a sua criação, envolta em enormes gargalhadas, muito suor, algumas lágrimas e quilómetros de esponja.
Agradecemos a todos aqueles que se cruzaram connosco neste processo e que nos
foram dando uma mãozinha aqui e ali, e que nos ouviram e nos aconselharam.
Pelo desafio, pela oportunidade e por caminhar para que o teatro e a arte sejam assim: Livres!
APOLLO NEIVA E DUARTE BANZA
“SR. MANEL - Liberdade? Liberdade? Agora inventas palavras nos teus tempos livres?
Essa palavra não existe! Não me admira que dês tantos erros nas composições, a inventar palavras dessa maneira...
ARTUR - Existe sim e não fui eu que a inventei, aprendi-a há pouco.
SR. MANEL - Mas por quem me tomas tu? Eu sou o mestre das palavras! Aliás, sou o
dono de todas as palavras. Palavras é comigo. Ainda tu não eras nascido e já eu vendia
palavras. Eu sei todas as palavras do mundo, por isso se não sei essa é porque não existe.
ARTUR - Estou a dizer a verdade Sr. Manel. Encontrei esta palavra numa carta que o
meu avô me deixou.”