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A Cadeira
de Edward Bond

Sinopse

São quatro as personagens que servem a Bond para imaginar algures, numa cidade, no ano de 2077, um mundo inteiro.

Se não fosse a força das circunstâncias, Alice procuraria ignorar o que a rodeia. Todavia, foi-se humanizando à medida da loucura de cada erro cometido. Por um lado, consegue criar um filho sem saber porquê; com medo que lho tirem, esconde-o uma vida inteira, até um dia ser obrigada a lançá-lo no mundo; por outro, ignorando igualmente as razões que a movem, quer levar uma cadeira à prisioneira, imaginando ser sua mãe.
Aqui não há espaço para heróis. Ela, Alice, não é de forma alguma um modelo e, Billy, o adulto (menino) que ela salvou do sistema e converteu em filho, é uma vítima, sem noção real da sua sorte. Tendo vivido 26 anos fechado num quarto, durante os quais, apesar de lhe ter crescido o corpo, não conseguiu tornar-se adulto, Billy continuou ingénuo. O mundo, ele ‘conhece-o’ apenas através da janela da sala, ou das projeções que idealiza e desenha após se inspirar nalgum recorte de jornal, ou ainda de ter ouvido o que a sua mãe lhe conta.

Para os sistemas desumanos, a ingenuidade dos seus cidadãos é uma graça. As imagens por eles forjadas, passam a ser as imagens que cada indivíduo deverá absorver, para a partir daí pensar o mundo. 
É precisamente por ingenuidade que Alice, um dia, ao imaginar numa prisioneira, a sua mãe, sai à rua. Porém, o leitmotiv que a faz descer à rua assume outras proporções: a mulher a quem quer ajudar e o soldado que a guarda, sem saberem porquê, têm um destinado inesperado. Uma mulher que poderia ter sido sua mãe, um soldado que poderia ter sido … que interessa isso num sistema sem cara? Igualmente quando se viu obrigada a libertar Billy, acabou por lhe proporcionar algo que não queria. Por fim, numa noite, num parque de estacionamento, o que resta de Alice confunde-se com o ar poluído da cidade. Sem perceber a impossibilidade de humanização, viveu-a. Similarmente, sem saber como, conheceu o tumulto dentro de si, o desespero, a fúria, a solidariedade, o desejo de justiça.   
Em Alice espelha-se o trágico em que vivemos, a nossa impotência face ao sistema. O enunciado que nos é imposto, como representação de uma dada realidade, não só se reflete nela, como lhe muda o significado. 

 

 

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Texto EDWARD BOND

Tradução ANTÓNIO HENRIQUE CONDE

Cenografia e Figurinos LUÍS SANTOS

Desenho de luz RENATO MACHADO assistido por DUARTE BANZA

Encenação PAULO ALVES PEREIRA

Com CONCHA | DUARTE BANZA | ELSA PINHO | FIGUEIRA CID

Operação de luz e som HENRIQUE MARTINS

Construção (Câmara Municipal de Évora) CARLOS ABELHO | CARLOS MESTRE | HUMBERTO MELO | JOAQUIM ALMEIDA | JOSÉ MANUEL GOMES | JUVENAL ADELINO | SIMÃO CABEÇA

Imagem do espectáculo LUÍS SANTOS

Design de cartazes NUNO MOITA

Fotografia LUÍS CUTILEIRO

Secretariado/Produção VANDA RUFO

Produção 'a bruxa TEATRO'

M/16

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'A cadeira' é como um bisturi que faz uma incisão no tecido social que nos envolve e nos arrasta, mostrando a sua contextura de alienação e manipulação de que somos alvo.

Um mundo, em que o espaço ‘individual’ de cada um, deixou há muito de existir. Um mundo restringido ao espaço da tragédia. Um espaço, em que cada um se auto controla; um universo em que cada um é vigiado e configurado segundo um plano que lhe é alheio. Enfim, um sistema sem cara.

Paulo Alves Pereira

Vivemos tempos desafiantes. Críticos até! Passámos por dois anos de confinamentos e máscaras cirúrgicas que nos distanciaram uns dos outros e nos obrigaram a ficar em casa. Isolamento forçado com comunicação virtual. Em boa hora foi escolhido este texto de Edward Bond para ser agora levado à cena. Escrito em 2000, retrata um tempo ainda por vir no ano futurista de 2077. Uma cidade habitada por gente oprimida, mecanizada e controlada pelo sistema, por processos, inquéritos, pela norma e pelo medo! Uma sociedade fria, totalitária e distante. Trazer esta visão de futuro, tão próxima do nosso presente, foi desafiante.

A criação da cenografia, um espaço para ser habitado por estes generosos atores que dão vida aos personagens inventados por Bond, concretizou-se na invenção de uma casa fria (um bunker?), despojada, assética, em que os tons de cinza das paredes nos remetem para o betão e que a sua pintura contem características apocalípticas (o fim dos tempos envolto em penumbra, nuvens escuras, fumo e silêncio).

Luís Santos

 

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45ª Produção | 2022

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